Encontrei esse livro no “Clube de Leitura” do meu condomínio, que não é nada mais, na verdade, do que uma sala pequena com uma estante e uma escrivaninha, com meia dúzia de livros tão velhos que chega até a ser difícil de ler as letras borradas nas páginas mofadas.
No entanto um desses livros - velho, mas nem tanto, acabado, mas legível - me chamou atenção: O retrato de Dorian Gray. Escrito por Oscar Wilde, com sua capa vermelha dura, letras douradas e páginas levemente amareladas me fez ficar super curiosa quando o vi, porque.. bem, tenho que confessar uma coisa: apesar de reclamar no primeiro parágrafo, AMO livros velhos (especialmente aqueles que já foram usados).
Não tem "mó" áurea de mistério? |
Adoro pensar que o livro pode ter ainda mais história do que o contido em suas páginas, que alguma outra pessoa em um contexto diferente do meu, chorou, riu e “passou” algo com o mesmo livro que eu tenho nas mãos. O próprio fato do livro ser antigo, me leva a divagar se, por algum acaso louco do destino, aquele livro acabou de me inserir em um mistério real e palpável , mas tão fantástico quanto o escrito nas páginas de um romance.
Eu sei que é um pensamento inconsistente e até inútil, mas me agrada e aumenta a beleza e suspense do livro em si.
Olha eu depois do sebo aí gente..! |
Ps. Tirando eu, que troquei “O Diário da Princesa” por “O retrato de Dorian Gray” eu nunca vi nenhuma outra pessoa trocando/pegando um livro lá. Sério. E o pior de tudo: pessoas que não vão morrer se abrirem todos os livros da sala de uma só vez e ficarem inspirando o ar com toda a força.
(Só de pensar nisso minha garganta começou a fechar. Aff. Eu não vou fazer isso, garganta. ¬¬’)
Enfim, abri esse livro num domingo a noite e continuei a ler (tirando uma longa história de interrupção que não estou a fim de contar) até estar tão entretida na leitura que, mesmo com uma linguagem mais antiga e formal, estava presa ao livro. Sentia aversão ao Dorian e ao que ele tinha se formado, ao mesmo tempo pena e estava tão deslumbrada (não necessariamente no lado bom) com a narrativa, tão pasma com o mundo doente de Dorian, que me senti atraída pelo livro de uma forma diferente do que os outros que já li.
"Eu sou o Dorian. Lalalala Um perfeito psicopata!"
(Essa é a minha vingança em nome da Sibyl. Ele sabe o que ele fez..) |
O Dorian dá MUITA raiva. Teve um ponto na história que odiei o Dorian (durou um booooooom tempo, na verdade), mas a minha raiva diminuiu quando percebi que sua alma já tinha sofrido uma degradação tão grande que nem ele mais tinha controle sobre as suas ações. Foi aí que a raiva virou pena.
Induzido pelo Lorde Henry a se aventurar em um universo problemático, pouco a pouco Dorian se torna mal, mesquinho e corrompido. No entanto, furto de um “inocente” pedido impulsionado por um comentário de Sir Henry - o primeiro egoísta que já fizera – todas as deformações de seu caráter e vida são diretamente transportadas para a pintura, tornando-o um ser horrível por dentro e perfeitamente puro, eternamente jovem, por fora.
O livro critica e aponta a sociedade de sua época no que ela tem de pior, todos os seus defeitos e hipocrisias. Acredito também que Oscar utilizou seus personagens, especialmente Henry, para passar várias das suas visões, teorias e pensamentos sobre a vida, o casamento, a moral e a beleza (entre outros), teses e questionamentos esses que não cabiam a sociedade da época e que dificilmente seriam muito bem aceitos.
Henry é um personagem singular. Seus valores são completamente transtornados. Ele é irônico e sádico, mas engraçado e atrai a todos com seu modo de vida baseado exclusivamente em atender seus prazeres imediatos, além der muito esperto e filosófico e me fez refletir várias vezes ao longo da leitura. Contudo, tem mais ou menos consciência de quais limites não pode atravessar.
Já Basil é o segundo personagem que mais gostei de todo livro (o primeiro é a Sibyl) porque ele é um ótimo pintor, fofo, bom amigo e preocupado com Dorian. É também o pintor do fatídico retrato e “portador do caráter e dos bons costumes”, (piada interna hehe) conhece Dorian antes de se tornar um maníaco psicopata conturbado.
Oscar Wilde |
Creio que.. tenho uma leve suspeita.. que ele seja gay e ame o Dorian... Até porque vários relatos da vida de Oscar Wilde e vários rumores indicam que ele pelo menos era... Ma é só suspeita..
Apesar da descrição tão incrivelmente detalhada que às vezes é sim um pouco maçante, tantos detalhes me deixaram ainda mais na vibe que o livro pedia e achei muito bom. É, ao mesmo tempo, angustiante e intrigante ler a história de Dorian e comparar sua pureza do início ao trágico ser (aquilo não pode ser humano) que ele vira.
Dorian chega a ter nojo de si mesmo, do que observa no retrato. Todavia, em alguns dias contempla o retrato com orgulho, como um prêmio, encantado com sua própria perversidade, como se contente por deter um segredo tenebroso só seu e que ninguém nunca teria acesso a nãos ser que ele quisesse.
Portanto, o livro é, em uma palavra, fascinante. Um clássico e que deve ser lido não só por ser clássico, mas por ser super inteligente e interessante. É o tipo de livro que você só lê se está a fim de pensar e que tem de ler mais de uma vez se quer realmente entender seu conteúdo.
É isso que eu vou fazer.
Algum dia.
Ah! E como eu li a versão de 1972 que não vende mais na saraiva, pode ler a da editora lamark que é a mesma história e a capa é bonitinha, ó (capa ao lado). é com a imagem do filme que eu, a propósito, tenho de ver.
Bjkss pimpa ;)
P.S. "SIBYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYLLLLL!!! POR QUEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEÊ????? E Dorian; ainda não gosto de você.
Acabei faz mais ou menos de ler esse livro a 1 hora. Uau!
ResponderExcluirAmei odiar o livro. Criei um ódio tão grande do Dorian e do Lorde. Tadinha da Sibyl. Amei esse livro, foi bem diferente do que estou acostumado. Nunca dois sentimentos tanto me intrigaram, foi justamente a raiva que sentir do Dorian que me fez perceber que o livro é simplesmente maravilhoso.
Amei o livro o odiando. Teve horas que queria da uns tavas tanto em Dorian quanto do Lorde filho da mãe.
Livro maravilhoso.
BJ Pimpa!
Não era um rumor, Pimpa, Oscar Wilde era assumidamente gay! E se vc tem dúvida se o Basil é ou não é, o filme não deixa sombra de dúvida sobre isso...
ResponderExcluirFoi um jeito sutil de dizer q ele era.. E Pabline, eu senti exatamente o mesmo q vc!! é esse "amar odiando" q fez a experiência de ler esse livro tão diferente pra mim.
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